Dias de (IN)Segurança Pública

Um fato curioso me ocorreu na última quinta-feira (19/06). Estava eu em mais um dia como júri popular do 31º Festival Guarnicê de Cinema (evento, diga-se de passagem, muito bem idealizado), quando um amigo que está sentado ao meu lado recebe uma ligação. Era sua mãe desesperada avisando-lhe que naquele momento acontecia uma série de arrastões simultâneos em vários bairros da capital. Óbvio, ficamos todos aflitos e preocupados com a nossa volta para casa. Os curtas, vale lembrar muito interessantes, serviram apenas como pano de fundo de mais uma situação de insegurança que vivemos por conta da greve da Polícia Civil que já chega ao seu 27º dia. O curioso nessa história toda foi perceber a capacidade que a informação tem em se expandir em tão pouco tempo. O medo conseguiu se espalhar tão rápido de modo que até nós, universitários cinéfilos (ou não), nos sentimos ameaçados e incapazes de desfrutar de um bom e velho filme gratuito. Tá. O cômico aqui foi descobrir na manhã do dia seguinte que tudo não passara de boatos maldosos originados de uma parcela da população que sabe tirar proveito de uma situação caótica e consegue se divertir com a insegurança das pessoas.
Não achando pouco me deparo com outro caso decorrente de nossa (in)segurança pública. Nada cômico. Apenas trágico. Na manhã da última sexta-feira (20/06), um latrocínio foi registrado no até então considerado tranqüilo bairro do Bequimão. A vítima?Airton Lima, de apenas 40 anos de idade, fotógrafo da produtora Focus (localizada no próprio bairro). Os criminosos? Um sujeito identificado (por ele mesmo) como Davi Gomes e o agora foragido José Leandro Sousa Barbosa, conhecido como “Léo”. A polícia? Os moradores que acompanharam o incidente. Ao entrar no estabelecimento, os assaltantes renderam Airton, seu tio (proprietário do local) e uma cliente.
Após conseguir o dinheiro, “Léo” e “Davi” (daria um bom nome de dupla sertaneja) tentaram fugir, mas foram surpreendidos por Airton, que reagiu e acabou sendo baleado à vista de todos que passavam pelo lugar e em meio aos moradores do conjunto. A morte foi inevitável. A polícia militar foi acionada mas chegou cerca de uma hora depois do ocorrido. Resultado: “mãos à obra”. Tentativa de linchamento do criminoso. “Davi Melo”, autor do disparo, não conseguiu fugir e sofreu as conseqüências, ao contrário de seu parceiro, que fugiu em um automóvel que encontrava-se ali perto.
Pais de família assumiram o papel de defensores da justiça e frente à suas crias ensinaram que violência se justifica com mais violência. Atitude moralista?Creio que não. Acompanhei tudo de perto, exceto o momento do assassinato. Minutos antes havia passado no local e conversado com o próprio Airton sobre o aluguel de uma kitinete no prédio em que se encontra o estúdio ao qual ele trabalhava. Muito simpático, me passou todas as informações necessárias e indicou possíveis lugares em que o preço estaria mais baixo. Ainda lembro de suas palavras: “Olha, aqui estão alugando por R$ 460,00, mas é um ‘senhor apartamento’ (...) inclusive está desocupando um agora...”. Saí contente mesmo não conseguindo resolver meu problema. Contente até o momento em que recebo a ligação de uma amiga que me acompanhava na busca incessante por um quarto/sala disponível para aluguel.
Assim que soube corri para o local. Não acreditei no que vi. Até quando pessoas inocentes morrerão vítimas da violência provocadas pela nossa excelentíssima segurança pública? Em momentos como esse chegamos a pensar absurdos. “Será se todas as pessoas que eu pedir informação serão assassinadas?”. Nossa. Absurdo pensar isso. Cheguei a uma conclusão: “Não peço mais informação.Não enquanto a Polícia Civil estiver em greve". Bobagem? Talvez. É. Paranóia minha.

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