Crítica - Calunga (Jorge de Lima)


Calunga, de Jorge de Lima, foi uma das poucas obras destinadas à prosa já escritas pelo autor, conhecido por suas poesias “inconsistentes na organização e sem rigor”. A experiência com a prosa deu certo em uma época em que o regionalismo era exaltado e o coronelismo criticado por autores consagrados como Graciliano Ramos. Em Calunga, Jorge de Lima segue a linha dos autores pré-modernistas, uma vez que recria o retorno de um homem à sua terra natal, depois de anos na cidade grande. O título do livro relaciona-se com a existência de um animal muito comum no sertão nordestino: o próprio calunga, tão citado durante a obra. Mesmo fazendo essa referência ao animal, Jorge de Lima dá a entender que a palavra calunga também relaciona-se a movimentos d’água.

Publicada no ano de 1935, Calunga denuncia o coronelismo, a pobreza e o abandono do trabalhador nordestino, denotando assim seus temas regionalistas, suas preocupações políticas e espirituais etc. O romance não carrega o tom de denúncia e nem busca o exótico, possuindo caráter sombrio e com alta densidade poética, algo que não poderia faltar em uma obra de Jorge de Lima.

Ao longo do texto, o narrador limita-se a conduzir o leitor pelos ambientes e pelo interior dos personagens, sempre descrevendo o estado de miséria em que estes se encontravam. A linguagem coloquial possibilita uma aproximação do leitor com a situação dos personagens e uma suposta identificação do brasileiro com a imagem de Lula, personagem principal.

O romance Calunga pode ser considerado uma das melhores obras já produzidas por Jorge de Lima, já que nos proporciona uma leitura interessante e agradável na medida em que contextualiza de forma fantástica o momento político e social em que o Brasil se encontrava no início do século XX. A obra tem valor para o nosso tempo, pois ambientaliza um período de extrema importância para a formação de nossa atual realidade social, política e econômica brasileira. Não merece ser castigado pela crítica posterior à publicação da obra e tampouco deve ser mal visto pelos leitores assíduos de obras fictícias. Faço minhas as palavras do jornalista Carlos Graieb em texto publicado na revista Veja: “Ainda que jamais venha a fazer parte da grande tradição do romance brasileiro, a obra ficcional de Jorge de Lima, que não se acomoda aos cânones de nenhuma escola, é mais que uma curiosidade, e merece ser lida”. De fato.


3 comentários:

Frank Lima disse...
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Frank Lima disse...

amor fico feliz, ao saber que a cada dia seus textos estão melhores, mas nao gostei do fato de a sua pessoa ter tirado o meu comentário, isso é um ato de autoritarimo da sua parte,

isso significa que quando eu for detonar com o texto tu vai apagar?

bjao e continue escrevendo desta maneira tão bela como a sua alma...

Dokiñ Baldoíno Jr disse...

Um ótimo texto minha querida, você escreve com consistência.
Beijos,